“Temos tantas coisas para falar e mostrar e sabemos que muitas pessoas, principalmente no meio universitário, também têm muita coisa boa para dizer! Então decidimos não deixar mais essas coisas guardadas – nem as nossas, nem as de ninguém.”
Jorge Filholini e Vinícius de Andrade, bravos idealizadores do site de divulgação, reflexão e debate cultural Livre opinião: ideias em debate, falam das suas motivações e objetivos ao manter no ar um espaço dedicado à cultura, na atualidade.
O que é o Livre Opinião Ideias em Debate e o que motivou a sua criação?
É um site de divulgação cultural e, mais amplamente, do conhecimento em um espaço livre e gratuito, o que atualmente começa a se fazer rarefeito (talvez o Catraca Livre e outros pequenos grupos independentes ainda empunhem esta bandeira). A ideia do site surgiu em nosso quarto ano de Letras, quando assistimos ao fim da revista Bravo!,e também a uma triste palestra do Rinaldo Gama sobre o fim do suplemento cultural Sabático, do Estado de S. Paulo. Naquele momento começamos a juntar os nossos sonhos de escrever manifestos e revistas como a Klaxon – sonhos sempre alimentados por conversas de bar – para divulgar a cultura e não deixar que ela morresse na e pela mídia, por assim dizer. E foi assim, do sonho de meros estudantes de Letras que iniciamos um blogue,dando literalmente nossa cara a tapa até abrirmos portas interessantes. Por essas portas, entraram Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Tom Zé, Paulo Lins e mais alguns escritores e artistas que se tornaram mais do que nossos entrevistados, se tornaram amigos e apoiadores.
Quais são os desafios que os que fazem jornalismo cultural, hoje, no Brasil, têm que enfrentar? E em São Carlos? Trata-se de um contexto com especificidades?
O principal desafio é com certeza o financeiro, que, aliás, acreditamos ser o que motivou o fim da revista Bravo!e o fechamento do Sabático. A lógica mercantilista está aí para acabar com qualquer coisa que não produza – ou não pareça produzir – algo concreto. É assim com a arte, apesar de nos parecer um imenso cinismo, afinal, sabemos do potencial e da proporção do mercado artístico no país. Em São Carlos a realidade só piora, estivemos envolvidos (e ainda estamos) com o jornalismo são-carlense e chegamos à conclusão de que só interessa aquilo que é imediatamente vendável, ou seja, pensando em uma cidade como a nossa, as intrigas políticas e a opinião comprada do jornalismo são o que ditam as páginas dos jornais. Em relação às especificidades, sim, o LOID abrange a cultura em seus diversos segmentos, desde o Teatro, Cinema, Série e Música até a Ciência e a Astronomia. É quase um malabarismo, porque, apesar de a cidade ter um grande número de estudantes, São Carlos mantém poucos elos com a cultura e com estes estudantes. Assim, os estudantes acabam mantendo pouco contato com essa já escassa cultura, quase que num movimento que mistura desinformação e mesmo repelência – lembrando que o Livre Opinião surgiu, num primeiro momento, entre o público das universidades.
Como vocês determinam as pautas do LOID?
A pesquisa determina principalmente as entrevistas, que, geralmente, temos prontas com uma semana de antecedência à publicação. Também pesquisamos as datas históricas da semana e eventos relevantes, além,é claro, dos artigos que escrevemos sobre livros e assuntos que gostaríamos de publicar e expor por acharmos relevantes. Ou seja, assim como acontece em qualquer outro meio de comunicação, a pauta do LOID passa pelo filtro subjetivo dos editores e dos colaboradores. Também pesquisamos eventos que têm o intuito de difundir o conhecimento e então ajudamos a fazer a divulgação e, muitas vezes, ajudamos até mesmo na organização desses eventos para que eles se realizem e possam beneficiar o público interessado.
De que forma o LOID articula a informação, a promoção e a reflexão a respeito da cultura?
Basicamente fazemos alguns resgates culturais e históricos, coisas que muitas vezes passam batidos nos ensinos básico, médio e superior. Também, tocamos em temas delicados como cânone cultural e literário, a até então pouco conhecida (dentro e fora dos meios acadêmicos) Literatura Contemporânea e os movimentos de divulgação e difusão desta literatura e dos novos autores, além de deixarmos o espaço do site aberto para qualquer tipo de colaboração. Por exemplo, temos colaboradores desde a UFMG até a Universidade de Indiana –University-Purdue University Indianapolis (IUPUI) –, com o historiador e arqueólogo Paul Mullins. Também recebemos e agradecemos muito as indicações de amigos e professores da UFSCar que tivemos a oportunidade de conhecer e que nos ajudam não só a informar o público leitor do LOID, mas também nos apontam os assuntos mais profícuos para se tratar.
No contexto atual de desaparecimento das revistas culturais e dos suplementos culturais vinculados a jornais de grande circulação, por que vocês acreditam que o LOID sobreviverá?
Não acreditamos. Porque não se trata de sobrevivência, afinal, até então, tem sido um trabalho voluntário. A divulgação da cultura é de importância vital, seja ela feita por professores, agitadores culturais, mídia, meros conhecidos e formadores em qualquer nível. Quem é que não vai te indicar um bom livro para ler? Ou deixar de contar aquela sacada que teve quando relacionou duas obras de arte? Temos tantas coisas para falar e mostrar e sabemos que muitas pessoas, principalmente no meio universitário, também têm muita coisa boa para dizer! Então decidimos não deixar mais essas coisas guardadas – nem as nossas, nem as de ninguém. Temos a oportunidade de proporcionar entrevistas com grandes autores e artigos de pessoas que têm muita coisa para dizer e então fazemos. E é isso que sobreviverá!O site pode até vir a acabar, seja por não aguentarmos mais manter uma vida tripla de trabalhadores da imprensa, editores do LOID e estudantes, seja pela pressão financeira necessária para manter um site deste porte. Portanto, não acreditamos que sobreviverá, mas, se sobreviver, ficaremos muito felizes. E principalmente, continuaremos!